31/10/2006

Glorificação - ou a cegueira induzida

"Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas."
Livro do Êxodo, capítulo 14, versículo 21


Plebeus e plebeias, cá volto.
Desculpem a demora, mas tive que retirar-me para umas ilhas a sul, que tinha o palácio cheio de água – foi uma trabalheira, as tapeçarias persas todas estendidas ao sol, as porcelanas da Companhia das Índias cheias de lama, ufa... que trabalho que deve ter sido para os meus fieis serviçais.
Felizmente que graças ao bom trabalho do meu bom amigo Príncipe da Alameda, Dom Paulino Primeiro e Último, O Perfeito e Brilhante, as coisas não foram piores. Aquilo que podia ter sido, sei lá, um dilúvio de levar casa e tudo, foi apenas uma cheia como as outras.
Efectivamente sabemos que o Príncipe Perfeito está em contacto directo com S. Pedro (o das chaves, não o da Beberriqueira) e interveio ele próprio para que parasse de chover, não fossem os malefícios abissalmente maiores, a ponto de andarmos de fatos de mergulho e ter-se de construir um cais para os turistas do Convento.

Senhores, confesso-me estonteado com a capacidade de construir notícias. A habilidade em transformar um mau desempenho numa opinião generalizada de que se é descendente directo de Deus. A caixinha mágica faz milagres, já sabemos, e até põe comerciantes a elogiar o trabalho daquele que não o fez.
Azar têm os autarcas de concelhos onde efectivamente esse lavor haja sido efectuado, nesses não houve cheias, nesses não se falou. Meus caros, quem vos mandou ser parvos? Para aflorar ao quadradinho mais poderoso do mundo tudo vale, e quanto maior for a tragédia, mais pontos se soma.

Triste povo, bem razão tem o teu pastor quando se diz O Iluminado na terra de cegos, porque a melhor forma de adestrar alguém, é fazê-lo sem que se aperceba.
Eu creio ser tempo de erguer estátuas, de levantar ruas em seu nome - que toquem os sinos, que se ofereçam as virgens, entregai-vos povo, entregai-vos!
O vosso Salvador está aí, omnipotente e presente, até encontrou espaço na agenda para vir a Tomar separar as águas. Povo não o deixeis partir que sem ele estais condenado, caminhareis certos para o negrume do abismo.
Acorrei povo, acorrei ao seu encontro, levai-o em ombros pelas ruas, cantai cânticos em seu nome, baptizai vossos filhos com seu apelido, sentai-o à vossa mesa, lavai-lhe os pés, dormi com ele, pendurai fotos suas nas vossas salas e por cima das vossas camas.

Ide, ide, que assim ireis longe, que tão longe já hoje estais.
Vede povo, vede a vossa terra tão bela assim quietinha, dormindo inocente nas margens suficientemente limpinhas do Nabão.
Vede como sois tranquilos e gostais, vede como a vossa vida entregais (e bem seguramente) nas mãos de outros que por ti decidem.
Olhai povo, a memória do teu passado, e confundi-te com ela, que talvez alguém assim se lembre de ti.
Olhai povo, lembrai-te, ouvi, sente o que ao lado te passa, e talvez te lembres do que já fostes.
E aí dentro de ti povo... bem aí dentro, nessa coisa esquisita que te causa algum desconforto, que por vezes até te faz pensar, coisa demoníaca! Aí dentro, lá nesse dentro que te faz humano, que te faz nabantino, nesse sangue que é alma de cavaleiros de outrora, repousa um pouco, ouvi o que esse algo te diz, olhai o que te mostra...
e talvez percebas que há outras verdades, para além das sombras projectadas no fundo da caverna...
e talvez descubras que queres, e que podes ainda, fazer o teu caminho.



E eu que não sou povo, vou já por aqui...

15/10/2006

feira, feirantes e feiosos - ou o circo nabantino.

Caríssimos súbditos, ilustres nobres, importantes monásticos, e restante plebe, queríeis, pois cá estou.
Antes de mais senhores deixai que vos informe que nós o Conde, escrevemos quando muito bem entendemos e a nossa augusta paciência e desembaraço o permite, pois que tem um Conde abundantes e mui mais sedutores afazeres, e se se faz agora nesta manhã nublada, condição meteorológica que a Tomar tão bem condiz, é porque se encurtou o jogging, e as braçadas na piscina.
Ulteriormente, o desígnio do Conde não é falar copiosamente, nem urdir excessivas teorias, nem e principalmente proclamar tudo o que sabe. Se assim agisse não restaria cabimento para o comentário dos plebeus que sois, e isto não teria piada alguma, pois se coisa há que um Conde gosta de fazer é galhofar.

Assim colocado deixai que vos diga que um pouco triste fiquei – ficam bem a um Conde estas confissões de humanidade! – quando passa minha pessoa a ser atacada, e de forma deveras rebarbativa e até repugnante, como se fosse o Conde o protagonista da história.
É crível que numa feição possível como qualquer outra, passe o jogo a ser preferir adivinhar quem é o Conde na sua forma mais terrena e mundana. Acho no entanto existirem melhores atractivos para as vossas escritas. Enfim, sois vós que sabeis. Em todo o caso, e estando tristonho com a forma, não deixo de gargalhar com as suposições, e permiti que vos diga em guiso de provocação, que andais, como só poderíeis andar, muito longe da verdade.
Verdade também será que se passa o Conde a ser visado, vero é que ou alguma das suas conjecturas não agradou a alguém, ou alguma está muito autêntica, ou para afinidade maior, ambas as hipóteses se afiguram. E bem sabemos como reagem algumas pessoas quando algo não lhes agrada - não nos surpreendamos, é da natureza humana!
Fiquei similarmente surpreendido por tamanha manifestação de nobreza cá pelas bandas, que revelo, desconhecia. Barões, marqueses, príncipes, uma paleta imensa sinal que é correcto que somos de prova uma terra de nobres, mesmo que só na fachada...
Este Condado teve também, vi há pouco, honras de figurar no Templário, e por tamanha simpatia para connosco vou desde já pedir ao meu secretário de homenagens, condecorações, afins e assuntos não especificados, que prepare uma justa consagração por préstimos ao Condado, vertida na forma do Grau de Ilustre Cavaleiro Escriba da Ordem dos Pobres Ou Assim Cavaleiros do Templo.

Bom, sobre aquilo que quereis que vos fale, em verdade não há muito para dizer por agora, que estão as águas muito turvas, e os fumos e sons da feira, perturbam a concentração.
A anunciação pelo próprio do fim de Paiva, e a tese já antes e depois mais forte da substituição deste por Pedro Marques, têm agitado principalmente os agrupamentos onde os dois independentes actualmente se colocam.
Os da rosa por seu lado, tentam passar a isso indiferentes, ou olhando em frente, sabendo que nos seus alguns há que bem gostariam que esse desejado voltasse à casa onde o acham pertencer.
E no meio de tudo isso há Rosa Dias, aquele quem julgamos ser a personalidade individual de maior crédito junto dos tomarenses, mas que dificilmente acompanhará Marques se esse migrar. O que fará? Tomará a seu cargo a árdua tarefa de manter a ilusão duma lista independente? É por outro lado comentada a alguma dificuldade de Rosa Dias em ser a primeira figura, mas se assim for, de quem será número 2? Ou irá simplesmente embora?

Deixo-vos aliás esta incitação, a fim de fazermos aqui um pequeno exercício. Façam o cenário de candidatos às eleições de 2009. E até podem indicar o cenário que gostariam, e o que acham que acontecerá, acaso julguem que os dois venham a ser divergentes. Prometo comentar os resultados.

O resto vai enfim como de costume: a feira igual à de sempre, e os tomarenses que lhe ligam pouco mas quanto baste e Carlos Carrão a dizer que gostaria de a colocar mais fora da cidade. Tipo Entroncamento ou Torres Novas talvez.
Fora, como habitual vai andando Paiva, mas também já ninguém liga.
Das reuniões de Câmara, da Assembleia Municipal, os jornais fazem algum eco do que se lá passa, mas também nunca ninguém ligou.
Tomar continua a não ir para lado nenhum, e a isso liga-se pouco.
Tomar e os tomarenses estão como os conhecemos, serenos, e quando não estão serenos estão tranquilos, e também ninguém nos liga.

A mim é que já me ligam, que tenho a lagosta e o Moët&Chandon à espera. Árdua é a vida de um Conde, que nem temos tempo para respirar!

01/10/2006

a cobiçada cadeira

Meus caros flecheirenses, não sei que tenha minha pessoa, que pouca vontade de se espraiar em considerações se me apresenta, que apenas porque me pedem com tamanha consideração e humildade, benévolo como sou, aqui me eis.
Assaz comentários interessantes, outros nem tanto que não mascaram quem os escreve nem com que intenção, mas isso também não me compete, têm vós por aqui deixado e só vos fica bem, essa interior vontade, aqui como bálsamo, de deitar para fora o que vos atormenta os sonhos. Bem sei, nem todos podem dormir como um Conde, mas a vida é assim, poucos são os escolhidos...

Enfim, na vossa mundana labuta, o facto político é a entrevista do Presidente de Câmara, pertinentemente oferecida em Bruxelas, já que como o próprio afirma é onde se sente bem, e verdade é que onde nos sentimos bem é onde devemos estar. Poucos são os escolhidos.

Diga-se então que se há dias pronunciei que o PS estava em vantagem porque podia ao contrário do PSD, assumir que está em busca dum candidato, essa pequena vantagem ter-se-á perdido.
E na distância e inconsistência daí advinda, a que estamos de 2009, quem aparece melhor classificado para ser o cabeça da laranja parece mesmo ser Pedro Marques, que sabe que na rosa tem a porta fechada, e que com os se dizem de sem fruto ou cor não se safa.
Para o ex-presidente essa é a única e derradeira hipótese, e convenhamos, para o PSD também não há muitas alternativas – nenhum dos actuais vereadores é solução, Relvas não trocará o aconchego de Lisboa, e Ivo Santos é suficientemente contestado pelos suficientemente mediáticos e controleiros do partido. Poucos são os escolhidos.

Sobre o PS em rigor não anelo dizer nada mais, que melhores talhas há agora a compor, até porque tenho duas concubinas à espera, assim como que para um jogo de bridge, mas talvez sem cartas. Poucos são os escolhidos.

Ou muito bem, pronto, deixo ainda duas últimas anotações em jeito de bónus e em virtude de alguns comentários aqui por vós rabiscados.
Primeiro, não espereis que, em qualquer dos partidos, venha algum iluminado viajante de fora para vos guiar ó povo! Não só porque tal em Tomar nunca aconteceu e não é apetecível a que aconteça - e que melhor exemplo disso mesmo senão o licenciado Relvas - mas também porque, realmente iluminado só mesmo este vosso Conde. Poucos são os escolhidos.
Segundo, não menosprezeis “a tropa fandanga” do PS ou que outro substantivo lhe queiram alcunhar, que as batalhas quase sempre se perdem por subestimarmos o adversário, olhem que estas rosas já não são as de outros tempos! Atentem a que a surpresa vem sempre donde menos se espera, e 2009 é um ano que aparenta vir a trazer surpresas. Quem eram em verdade Pedro Marques ou António Paiva antes de serem presidentes de câmara?

Certo mesmo certo, clarinho como a água, e fresco como as flores diárias do gabinete real do Palácio da Autarquia, é que 2007 e 2008 vão ser anos quentes. Ou nas palavras dum grande sábio popular brasileiro - "o bicho vai pegar”!
E no final... um será o escolhido.

Édito Normativo

Faz Sua Excelência o Mui Augusto e Vero Conde do Flecheiro a todos saber que:
1. Todos os seus decretos e despachos são integralmente exactos, excepto para os que entenderem que não.
2. Não pretende Sua Excelência o Conde, prejudicar ou ferir ninguém no seu foro pessoal, mas apenas glosar sobre aqueles que a laborações públicas se prestam, devendo saber que ao fazê-lo estão sujeitos pois, à crítica de terceiros.
3. Ao adverso do que comummente acredita a plebe, a crítica tanto pode ser negativa como positiva.
4. Não aprova ou desaprova Sua Excelência o Conde ninguém em particular, critica sim todos em geral, que ninguém está acima ou abaixo de conjectura, a não ser claro está, o próprio Conde.
5. Bom senso e bom humor devem ser requisitos para todos os flecheirenses que têm o privilégio de coabitar neste condado, e por tal privilégio, devem seguir as mesmas linhas de actuação que sua eminência o Conde.
Sobre este ponto aliás, não haverá preferível máxima que aquela que terá, segundo se informa noutro condado algures, sido atestada por Dom Paulino, Príncipe da Alameda - “olhemos para o espelho antes de abrir a boca”.

Este decreto revoga todos os em contrário.
Assim se cumpra e assim se faça cumprir.