28/12/2007

2008: ano da ressurreição. ou da celebração ao ditador.

Boas Festas Boas Festas meus senhores, Hossanas e Aleluias para todos, cá me tendes novamente. Pois bem sei, foi uma ausência mais prolongada que o costume, mas compreendei, têm sido tempos muito ocupados, primeiro com as visitas dos meus colegas da nobreza africana, o rei Mugabe, o Imperador Kadafi… ah sim, e aquele rapaz mestre-de-cerimónias, que também já foi filósofo, o Sócrates.
Depois, bom, foi a azáfama natalícia, afinal este é o mês do menino, é o mês das palhinhas, da vaquinha e do burrinho, e das prendinhas que há muitos anos alguns meus ascendentes que eram magos reis e tão reais quanto eu, iniciaram como tradição. Pois claro está, andei com a néscia condessa a ver de prendas, ou diga-se com correcção, a ver a lista, porque para as ir comprar vai o meu mordomo Jarbas, eu pessoalmente só compro em Paris, Londres ou Nova Iorque.
Foi uma canseira que para relaxar já a consoada vi passar aqui a um hotelzito do Dubai, onde permanecerei mais uns dias, e onde 63 andares acima do mar que se estende da minha janela ao infinito do olhar, vos escrevo agora, ainda obstruído das ostras, lagostas e caviar. Sim, porque isso das couves e do bacalhau é coisa de pobres.
De qualquer forma, não conseguia passar esta época aí no condado, tal é o barulho das obras, e as luzes natalícias que também não me deixam dormir.

Quem era para ter vindo também é o meu amigo Príncipe da Alameda, mas desculpou-se dizendo que tinha de encontrar um palacete lá para Coimbra onde diz que agora vai reinar. É um bom tipo, à maneira antiga, um sangue azul puro, mas um bocado tonto – então não é que recusou a homenagem que os seus vassalos lhe estavam já a preparar para a hora da despedida? Ó meu caro, se há coisas que nunca se recusam são homenagens da vassalagem, em especial daquela que sempre nos foi abnegadamente fiel. É preciso manter a rédea até ao último momento, e pena é que não se possa como no tempo dos saudosos faraós, levá-los também para o túmulo.
É que é para o bem deles, todos sabemos que quando o fiel animal perde o dono, perde o sentido da vida, o guia, a orientação, e bem certo é que começa a ensandecer. Estou certo mesmo longe, que tal se notará já em Tomar, tal a quantidade de órfãos criados que o Príncipe deixa.

Esta miudagem hoje em dia, sem nome nem pedigree, que diz por aí umas coisas como se da vida percebesse alguma coisa ou algo pudesse mandar, é que anda a debelar o mundo. Modernices dessa malta que se intitula democrata, quando sempre se soube que o mundo precisa é de ditadores.
A palavra ditador aliás, tem tido muito por culpa do último século que passou, uma infundamentada carga negativa, mas em verdade pela denegrição que esses tais democratas sempre intentaram passar para enganar as massas. Pois se até os comunistas (perdoai-me Senhor, pelo uso de palavras tão pecaminosas) reconhecem as vantagens de um bom ditador!
Um ditador não é mais que um enviado, um homem iluminado – e frise-se, um homem! – sábio, destemido, e benevolente a ponto de abdicar da sua existência individual para olhar pelos outros, para libertá-los do fardo de ter que tomar decisões ou, para orientá-los, para ser o seu guia, o seu propósito, o garante da normalidade, o seu sol e o seu ar…
Cada ameaça, cada olhar de desdém, cada insulto, cada grito exasperado de um tal homem deve ser para o comum mortal um estímulo, um gesto de amor que deve ser correspondido sem hesitação.
Um ditador é portanto um ser ao qual deve assistir o carinho, a admiração, a contemplação, e por isso todas as homenagens são poucas. Por mim, todos os ditadores deviam ser automaticamente canonizados e Paiva não merece menos.
Porque em contrário veja-se, o que vai ser agora de Tomar? Como vamos sobreviver sem esse pulso, sem essa voz de comando, sem essa visão, sem esse farol?
Já vejo Dom Carrão Barão das freguesias entretido a pregar rasteiras a Dom Corvêlo Arauto da Bonomia, e Rosário San e as suas técnicas de Kung Fu a digladiar-se com o Cavaleiro Ivanhoe em sangrentos duelos ao pôr-do-sol.
Não, não, o cenário não se afigura nada bom, e prevejo mesmo como muito possível banhos de sangue e suicídios colectivos… vai ser pior que naquele livro daquele comunista espanhol, El Saramago, em que os personagens ficam todos cegos e se matam uns aos outros!

Quem ficou muito contente foi Dom Pedro O Independente, a esfregar as mãos com aquele sorriso de cobiça que os vilões sempre fazem nos filmes da Disney. O que devia ser já um sinal, porque assim como nos filmes o vilão morre ou enlouquece antes do genérico final cair, também é verdade que na vida real, ditador deposto é como rei morto, não volta, pois se foi deposto é porque não era ditador suficiente para se conseguir manter. Além disso, nenhum candidato a ditador se aguenta só com três ou quatro serviçais, nem pode ter ninguém ao lado que brilhe mais que ele, e o Cardeal Rosa Dias sempre foi mais aclamado pelo povo.

Para os lados dos Cavaleiros Rosa Choque é que também não se adivinham coisas boas, ali nunca se souberam produzir grandes ditadores, é na verdade algo muito difícil, aparecer alguém com essas características que o fazem único. Os ditadores que por ali tentaram vingar, aos poucos os correram, e agora o que têm? Um punhado de gente com a mania que as coisas se decidem conversando! Parolices. Mas onde é que isso já se viu?
É o que dá atribuírem o ceptro do poder a um miúdo que tem a mania que pensa! Ainda para mais o parvo do miúdo, o aprendiz Cristóvão, pôs-se a escrever missivas aos escribas do condado só porque aqui ou ali não sabem redigir! Como se isso fosse alguma vez preciso - desde que escrevam o que o chefe mandar…
E é isso mesmo que não percebem e lhes faz falta. Saber mandar, ter voz de comando, meter medo só com um olhar, isso é o que compõe um bom ditador, e isso é o que essa terra azarada e esquecida precisa! O Marquês Carlos Silva é o exacto contrário disso e fala demasiado com o povo, e agora viram-se para o Arquiduque Becerra, quando outros ficam à espreita, veja-se por exemplo o Dr. Jekyl Mendes já de bisturi na mão.

Não será por isso assim que os nabantinos se erguerão do pântano onde galhofeiros se afundam todos os dias! Dom Paiva foi o cruzado regressado das terras de África que no retorno do seu caminho por aí ficou a comandar um pouco esse castelo, mas como todo o bom cruzado partiu quando melhor forte descobriu para reinar, e é isso que resta a essa terra infecunda, encontrar outro que vos governe, porque sem isso, estais perdidos.

Deixemo-nos então das maleitas, e ao jeito da época, permiti que revele brioso que prendas úteis a pensar nos próximos tempos, enviei para algumas personagens deste conto quase saído da pena dos Irmãos Grimm: Pensos rápidos para Dom Corvêlo e o “Como ser líder em 20 lições” edição revista e anotada, e uma garrafa de um puro escocês de dezoito anos, pois dois copos pela manhã são o melhor remédio para afugentar a “cagufa”; umas Nike para Dom Carrão e para a sua corrida às eleições e muitos Klenex’s para enxugar as lágrimas quando o PSD escolher outro; um trem de cozinha para Dom Relvas gozar a reforma no Brasil; para Dona Miliciano muitas raspadinhas para continuar a tentar, alguma vez há-de sair; para Dom Luís Graça um livre passe para uma clínica de rejuvenescimento; um GPS para Dom Pedro Marques saber onde se posicionar; o regulamento da Assembleia Municipal para Dom Rosa Dias, único sitio onde poderá ambicionar estar após 2009; um baralho de cartas para os restantes independentistas poderem jogar uma sueca se Dom Pedro alcançar os seus intentos e ficarem sem nada para fazer; umas luvas de boxe para Dom Ivo Santos ir à luta; muitas aspirinas para as futuras dores de cabeça de Dom Cristóvão e um passe da Carris que vai precisar por muito tempo; para Dona Anabela Freitas um megafone para que o seu centro de desempregados possa competir com os feirantes lá instalados; para Dom Vítor Gil o livro “As grandes mudanças do século XX” a ver se o homem as acompanha;
Para os anónimos dos blogues, um frasco de pimenta, um dicionário e um prontuário da língua portuguesa e um guia de boas maneiras.
Todos levam ainda um cabaz com um espelho, o livro das crónicas do Ricardo Araújo Pereira; o livro do Saraiva; o DVD com o best off do Amândio; As Farpas de Eça de Queirós; um vale de desconto em qualquer superfície comercial de Torres Novas e bilhetes para casal no cinema local,
A lista é bem mais extensa, mas estando já extenuado, a vós deixo o resto para adivinhação.

E pronto, cá voltarei em 2008, até lá, deixem isso das doze passas e escolham é as lagostas bem frescas e o champanhe bem bruto, e sejam meigos nos dizeres e convictos nos fazeres.
Prostrados, recebam cumprimentos do meu bom amigo Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, governante do Dubai, e do vosso sapientíssimo e sempre vigilante,
Conde do Flecheiro.