04/11/2007

Bolinhos Bolinhos, dai com a porta nos diabinhos

Pois caros plebeus e plebeias, aqui me eis de novo para mais uma crónica de elevada propriedade e afinada perspicácia, como só os mais nobres eruditos vos alcançam permitir abeirar.
Isentai-me de culpas por esta dilatada ausência, mas este mês que expirou trouxe-me tantas emoções que tive de estar ao longe mirando apenas em breves ápices, ou não fosse o meu já fraco coração pregar-me alguma partida. Sim, refiro-me aos tumultuosos tempos que grassam pelo laranjal português, mas lá iremos.
Passou o arraial da santa noviça, foi-se o dia dos santos todos e o de finados, e igualmente hoje se fina a gastronomia scalabitana, pelo que seremos agora empelidos para essa época brilhante e mercantil do menino que passa a vida em palhinhas estendido acompanhado como tantos de nós, pela vaca e pelo burro. Ah, que época linda, tudo a luzir, tudo a dançar com aquelas musiquinhas lindas. Acho que agora vou para o Tibete…
Enfim, certo é que os próximos tempos começam a aproximar-nos da época de decisões, e vamos portanto hoje aqui efectuar um bom conjunto de sérias reflexões e outras tantas questões que para vosso afazer delego, começando com esta: os dois partidos chamados do arco do poder, encontram-se num ponto marcante e divergente entre si. Se o PS, que antecipou a resolução da coisa interna para antes do Verão, pela primeira vez em muito tempo uma só lista teve a concorrer, o PSD que no fim desta semana vai a votos, pela primeira vez em muito tempo terá duas.

Mas comecemos no roseiral. Por lá, a coisa encaminha-se timidamente para Becerra Vitorino, mas se o partido enfrenta várias dificuldades, o candidato algumas em particular. O PS recupera lentamente do desgaste de anos, fossem as derrotas e alguns episódios menos felizes, ou as pelejas internas e alguns protagonistas de menor credibilidade junto dos tomarenses, o que agora parece ter serenado mas ainda não colado totalmente na população. A juntar a isto, Vitorino tem o passado pouco feliz de passagem por uma câmara PSD, dita a pior, e isso é normalmente difícil de engolir aos militantes mais “históricos”, além de que a sua imagem junto de muitos cidadãos é a de uma pessoa distante. Conseguirá ultrapassá-la?
É verdade que Hugo Cristóvão e Luís Ferreira têm o PS dominado, mas será isso suficiente para que o processo se resolva sereno? O PS tem tradicionalmente vozes que se levantam depois das decisões tomadas apenas com o intuito de destruir o que não conseguiram construir. Será assim novamente? Como se irá portar a família Mendes, não terão eles ambições próprias? E António Alexandre, já fez as pazes com o partido, ou tem alianças mais fortes?
As outras duas soluções apontadas, Anabela Freitas ou Hugo Cristóvão, parecem aliás ter mais apoiantes que a primeira, mas residirá a tentação de escolher o que pareça ser mais conhecido da maioria dos cidadãos, por muito, como eles mesmos provaram, que isso nem sempre seja garantidamente bom.
O PS tem entretanto outro problema por resolver, o que fazer com o vereador único Carlos Silva? Continuar com o esquema de mais ou menos rotação que tem sido efectuado? É que, por mais que leve a lição estudada, ele não consegue impor-se à restante câmara, nem convencer os jornalistas. Terá o PS coragem de mudar definitivamente de capítulo?

Pelo PSD as coisas estão para já bastante mais difíceis e como se foi dizendo, as eleições internas vão ditar o desenlace da questão. Estando há três mandatos no poder e sem grande tradição de discussão interna, o partido dissolveu-se no tempo face a uma liderança estilo déspota iluminado que Paiva lhe imprimiu. O partido, diga-se em expressão popular, está seco. Afastado Fidalgo, e com Carrão na liderança, directa ou através do apagado Luís Vicente, e secundado por homens como António Rodrigues ou Jaime Lopes, o partido nunca teve qualquer vitalidade, ou não fosse essa a intenção.. E na geração que costuma ser da ruptura não se vê reacção.
A acontecer, a ruptura sucederá pela geração intermédia, uma vez que, e por caminho aberto embora certamente sem esse propósito, por Paiva ao anunciar cedo a sua não recandidatura, teremos duas forças em disputa. Por um lado e por corpo presente de Luís Vicente, teremos o anunciado candidato Carrão, por outro lado o regresso de uma exilada Isabel Miliciano com um argumento de peso, o também mal tratado Ivo Santos.
Estas eleições cruzam-se com as da distrital laranja, após a ascensão Menezista, o que mexe com uma importante figura de cena, Miguel Relvas. Este, com o espaço cada vez mais apertado, joga a sua sobrevivência nestas duas eleições, sendo certo que por todo o distrito se afiam forquilhas para ofertar ao eterno deputado. E naturalmente, Santos e Miliciano estão do lado João Moura, esse onde muitos têm azia só por pronunciar o nome do ex-Secretário Geral.
Deixemos no entanto a análise da distrital, onde a probabilidade maior é ainda assim a da vitória dos mesmos (mas na nacional também era) para nos centrar no burgo.
Ganhando Carrão, o destino está traçado: Carrão será candidato, e só poderá desistir de o ser para uma pessoa, António Paiva. Para qualquer outro perderia a coerência, e seria infiel à convicção de ser o melhor candidato. Mas será mesmo? Relvas não se sujeitaria, e Luís Graça foi apenas um delírio de intelectuais que não se revêem no estilo povinho de Carrão.
Na outra face, se Miliciano ganhar, o enredo tranfigura-se. Ivo Santos é aí o candidato natural, mas estará já convencido? Se o agora empresário dizer não, o que não se acredita, ganhará força a hipótese Luís Graça, ou mesmo, Miliciano.
Mas não nos precipitemos, que este é romance que pode ter ainda algumas falhas no argumento e o importante agora é ver quem e como ganha.

No meio, ou a um canto de tudo isto vão ficando apertados, como sempre se disse, os Independentes. O que poderão fazer, que espaço lhes restará, se o combate PS PSD se tornar mais interessante? A coisa não estará de facto pacífica. O projecto pessoal de Pedro Marques impele-o a continuar, porque o que o move é o que pode conseguir, ser vereador com o que isso lhe abona, mas será isso suficiente para conseguir convencer os restantes? E Rosa Dias? Atentemos a que Rosa Dias sozinho e enquanto candidato pela CDU teve mais votos que unido a Marques e atrás deste.
E se, ganhando Miliciano no PSD, Marques tiver um convite para ingressar nesse grupo? Só se tudo o resto falhasse seria cabeça de lista, mas aceitaria outro lugar?

A política, para quem lhe percebe as regras e o estilo, é o mais fascinante dos jogos. A expressão máxima da argúcia e combativa sociabilidade do ser humano. E foi no entanto esta mesma manifestação que nos fez evoluir desde os macacos!
Bom, para finalizar com cereja no bolo, há mais uma incógnita que vai também poder ser influenciada pelos resultados da próxima semana – António Paiva. Já aflorámos a remota possibilidade de se querer suceder a si próprio, mas se isso não advir, terminará ele o mandato? Ou sairá antes para dar espaço a Carrão? Lembremo-nos por exemplo, que em breve há eleições no politécnico…

So, with this few thoughts and until next time, that’s wall folks!
With regards of a sweet November, your dearly loved Conde