19/08/2007

Filosofias de barraca de praia

É amigos, diz que vai sendo tempo de botar faladura, ou no caso, dar com os dedos nas teclas.
Antes de mais desculpai este linguarejar tão brejeiro, mas estes ares de Agosto fazem-me ficar muito povo. Até já estou com comichão... e isto mesmo estando por aqui, no meu palacete de Vilamoura, onde a nobreza vem retemperar por estes dias. O Príncipe Perfeito Dom Paulino, o Burguês Mor Dom Relvas, o grande representante do Povo, Barão de Valdonas Dom Silva, e muitos outros figurões doutros Condados do reino, tudo por aí anda a largar as coroas e a espantar o pó entranhado ao longo do ano na extenuante labuta da política.
Tenho os miolos quase esturrados de tanto ar de praia! Bom… não será do sol mas antes das piñas coladas , dos vodkas martinis e das caipirinhas, tem sido aqui um consumo etílico que às vezes nem sei se penso, se alguém pensa por mim.
Pois bem sei que gostaríeis de ter novidades, daquelas saborosas de candidatos e listas e partidos, mas atendei a que é Agosto e que os meus serviços de informação estão praticamente encerrados. Não valeria o esforço de qualquer jeito, de mantê-los a funcionar que nada teriam para me informar, a não ser que os espalhasse por essas praias onde estão as individualidades. Da Nazaré ao Algarve a distância ainda é longa.
Do que me dizem aí do burgo, pouco se passa além dos "camones" e dos emigrantes. E das festas claro – à belo frango assado! Yeak! Como pode alguém alimentar-se disso! E comer à mão e no meio do fumo e sei lá mais! Grotesco!

Sim, diz que a festa já passou mas ainda é o que dá que falar, ou no caso deu arresto, nada de novo e nada que se possa já estranhar. Tomar é o que é, e só a um forasteiro ou a alguém muito abstraído do que por aí se passa, podem estranhar coisas como faltarem contas da festa de 2003, isto a julgar que a verdade seja verdade, que mesmo a verdade é uma coisa dúbia e depende da perspectiva de quem a vê.
Mas talvez essa situação ainda não digerida de 2003 justifique que a festa, ao contrário do que será opinião mais generalizada, não tenha corrido assim tão bem. Os enfeites das ruas estavam globalmente mais fracos, o planeamento correu mal, houve muitas coisas feitas em cima do joelho, e outras que devem alguma coisa à sorte, por exemplo. Mais importante, é patente que a vila turística do Nabão não tem infra-estruturas para acolher tal ajuntamento, e assim como parece não haver cultura organizacional de grande escala para fazer face a isso sem que muitos velhinhos voltem a casa com a palavra “jamais” crivada na dentadura. Mas tal é apenas uma opinião. Talvez a esse eventual menor sucesso, se deva ainda uma pequena percentagem derivada do facto do pulso do mordomo poder ser uma bocadinho mais forte, e ainda ao que a mim se assume como mais evidente e proponderante, que é o do próprio conceito ou filosofia de base da festa assentar num princípio errado e que no fundo não é mais que uma mentira: apelidar esta festa como “a grande festa do povo”, quando do povo ela não é nem nunca foi, e para funcionar bem, não o poderia ser. Psicologia de massas.

Mas falar nisto aborrece-me, e um Conde não deve estar aborrecido pois não só é pouco chique, como duplica o gasto de creme anti-rugas. Tenho de voltar para a piscina, que ainda tenho que fazer meia hora antes das amêijoas na cataplana regadas num maravilhoso Chablis Premier Cru 1989 branco.
Porém, na minha desmedida complacência e para não dizerdes que vos deixo assim sem nada mais para a vossa reflexão enquanto estais a tostar ao sol e a senhora da bolacha americana não chega, aqui ficam algumas ideias com um toque de La Palisse, que de alguma forma, e apesar de alguns de vós não darem ares de entender, há tempo venho dizendo e que muito têm a ver com a terra nabantina, a política, e a junção de ambos os desperdícios:

Não descureis do óbvio, que tal é o mais delicado de enxergar mas de ocorrer o melhor afiançado.
Não procureis longe o que perto esteja. Por muito que quase sempre preciso seja ir longe para se dar valor ao que perto se tem.
Quando só olhamos o firmamento, candidatamo-nos a tropeçar. Quando só olhamos a sombra não enxergamos a luz, e no entanto sem ela nem sombra havia. Quando só desejamos o céu, arriscamo-nos a perder o chão.
O difícil nunca é fácil, mas o fácil difícil comummente se torna.
Não podes oferecer o bem, a quem nem sabe que vive no mal.
Quase todos preferem o conforto da ilusão, à dureza da realidade.
Estar vivo, nem sempre, é o contrário de estar morto, e por provar está que o seja alguma vez.

Basta-vos? Será boa premissa para uma tese? Politologia? Vida?
Com bronzeada estima, o vosso sapiente Conde.


Post Scriptum - Acabaram-se as sondagens ali ao lado. O Condado não está em verdade muito vocacionado para isso, e até há por aí um site especializado, por certo mais interessante...